Este texto é para quem atua na linha de frente: enfermeiros e técnicos que precisam aplicar medidas que realmente mudam o risco de complicações no dia a dia. Não é teoria vazia. Abaixo, protocolos práticos, sinais de alerta e exemplos clínicos que você pode usar já no plantão.
Avaliação e monitoramento
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Aplique uma escala de risco (Braden/Norton) na admissão e reavalie sempre que houver alteração clínica. Uma mudança de risco exige ajuste imediato do plano de cuidados.
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Inspeção de pele: olhar e palpar. Verifique temperatura, consistência (endurecimento pode preceder lesão), coloração e presença de umidade. Faça isso ao menos a cada plantão e sempre após episódios de incontinência.
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Documente objetivamente: localização, tamanho (cm), profundidade quando aplicável, aspecto da pele (eritema que não branqueia, induração, exsudato). Fotografe com régua para acompanhamento.
Higiene prática e manejo da umidade
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Banho de leito: use sabonete neutro, fricção leve, seque bem as dobras; aplique hidratante em pele seca sem excesso.
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Incontinência: trocar prontamente, lavar com solução suave, secar, aplicar barreira cutânea (óxido de zinco ou dimeticona conforme protocolo local) e registrar cada ocorrência. Programar toalete programado quando possível.
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Evitar produtos agressivos em pele íntegra; não esfregar regiões vermelhas. Se houver maceração, priorizar secagem e barreira protetora.
Posicionamento e redistribuição de pressão
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Padrão prático: quando possível, mudança de decúbito a cada 2 horas; ajustar conforme tolerância e risco. Para sacro, prefira inclinação lateral a 30 graus em vez de 90 graus lateral.
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Calcanhares: suspender pressão direta. Use almofada sob panturrilha ou dispositivo de talas/boot para apoio do calcanhar, evitando contato direto com a superfície do colchão.
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Superfícies: escolha de acordo com risco — colchão de espuma especial para risco leve; viscoelástico ou sistema alternante para risco moderado a alto. Sempre checar funcionamento e integridade dos dispositivos.
Mobilização e exercícios aplicáveis
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Mesmo pacientes com mobilidade reduzida beneficiam-se de ROM passivo; rotina prática: sessões curtas 2 a 3 vezes ao dia, priorizando grandes articulações, com controle de dor.
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Para pacientes parcialmente conscientes, incluir exercícios ativos assistidos e encorajar mudanças de postura conforme tolerância.
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Em casos com risco de trombose, combine mobilização com monitoramento de sinais de TVP e seguir orientações médicas para profilaxia.
Nutrição e hidratação
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Avalie ingestão calórica e proteica; se ingestão subótima, solicitar avaliação nutricional e considerar suplementação proteica.
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Monitorar perda de peso e sinais de desnutrição clínica; integrar medidas nutricionais ao plano de prevenção de lesões por pressão.
Sinais de alerta que exigem intervenção imediata
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Eritema que não branqueia após 30 a 60 minutos de alívio de pressão.
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Endurecimento ou aumento de temperatura local.
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Presença de exsudato purulento, odor ou sinais sistêmicos de infecção. Nestes casos, iniciar registro preciso, fotografar, notificar equipe de feridas/medicina e documentar medidas tomadas.
Exemplos clínicos rápidos e ações imediatas
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Paciente pós-AVC hemiplégico, sem mobilidade do lado direito: risco alto para sacro e calcanhares. Ação: 30 grau tilt lateral, suspender calcanhar com almofada, ROM passivo três vezes ao dia, higienização rigorosa da região sacral após cada episódio de incontinência. Registrar Braden diário.
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Idoso com incontinência fecal e baixa ingestão oral: foco em barreira cutânea após cada evacuação, avaliação nutricional, aumento da frequência de inspeção e uso de colchão de pressão alternante se surgirem sinais iniciais de lesão.
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Paciente com lesão já iniciada (estágio I não branqueante): documentar, fotografar, intensificar reposicionamento, aplicar dispositivo de redistribuição de pressão, envolver equipe de feridas e revisar plano nutricional.
Checklist prático para o plantão (copiar no prontuário)
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Braden aplicado e atualizado
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Inspeção e palpação de pele a cada turno e após incontinência
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Mudança de decúbito: protocolo definido para risco do paciente
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Calcanhares suspensos quando indicado
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Barreira cutânea aplicada conforme necessidade
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Registro fotográfico e medidas quando houver alteração cutânea
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Encaminhamento para equipe de feridas se houver evolução
Como aplicar isso já hoje no seu serviço
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Implemente um checklist 24 h baseado nos itens acima para cada paciente acamado.
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Treine um técnico/enfermeiro por turno para realizar inspeção padronizada e registro fotográfico quando houver alteração.
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Use um formulário simples com campos fechados (sim/não) para garantir que nenhuma etapa seja omitida no repasse de plantão.
Material prático para uso imediato
Se você quer modelos prontos de checklists, mapas de pontos de pressão, rotinas de reposicionamento por nível de risco e protocolos detalhados de exercícios passivos para aplicar no hospital ou em atendimento domiciliar, o ebook Cuidado para Pessoas Acamadas - Exercícios e Prevenção contém esses materiais prontos para uso. No texto do ebook você encontra ferramentas que podem ser copiadas para o prontuário, impressas para a equipe e utilizadas como roteiro de treinamento dos cuidadores. Acesse e aplique as rotinas no próximo plantão
Conclusão
Não é detalhe: organização, avaliação contínua e pequenas intervenções práticas reduzem escaras, infecções e reinternações. Use checklists, padronize inspeções e treine a equipe. Se quiser, converto esse checklist em um arquivo pronto para impressão com campos editáveis para seu serviço.
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