O trabalho da enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é complexo e, como tal, comporta inúmeras necessidades para o desenvolvimento do cuidado. A dinâmica entre os profissionais, a condição crítica dos pacientes e a utilização de inúmeras tecnologias demandam da enfermagem conhecimentos de ordens diversas, potencializando a assistência prestada e maximizando processos efetivos de trabalho e cuidado.
Situando-se a UTI no nível mais complexo da hierarquia dos serviços hospitalares, apresenta a necessidade de organização e estruturação da assistência de enfermagem, de maneira a contribuir positivamente para a qualidade das ações e segurança do paciente e da equipe multiprofissional1.
Nesse contexto, a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) constitui-se como uma estrutura conceitual sólida que promove a continuidade do cuidado e qualidade da assistência de enfermagem. A SAE é um conjunto de atividades que tem por finalidade profissionalizar a assistência ao paciente por meio de instrumentos de trabalho que auxiliem na tomada de decisão para execução de cuidado científico, holístico e constante. O Processo de Enfermagem (PE) é um método de trabalho exigido como parte fundamental para a realização da SAE.
A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é uma metodologia desenvolvida a partir da prática do enfermeiro para sustentar a gestão e o cuidado no processo de enfermagem. O método é organizado em cinco etapas, que ajudam a fortalecer o julgamento e a tomada de decisão clínica assistencial do profissional de enfermagem.
Dessa forma, o profissional consegue agir de acordo com a priorização, a delegação, gestão do tempo e contextualização do ambiente cultural do cuidado prestado.
Com a utilização dessa metodologia, é possível analisar as informações obtidas, definir padrões e resultados decorrentes das condutas definidas. Lembrando que, todos esses dados deverão ser devidamente registrados no prontuário do paciente.
O processo é organizado em cinco etapas relacionadas, interdependentes e recorrentes. Para entender melhor, vamos explicar a seguir como funciona a metodologia.
Conheça as cinco etapas do processo de enfermagem dentro da Sistematização da Assistência de Enfermagem
1. Coleta de dados de Enfermagem ou Histórico de Enfermagem
O primeiro passo para o atendimento de um paciente é a busca por informações básicas que irão definir os cuidados da equipe de enfermagem. A etapa faz parte de um processo deliberado, sistemático e contínuo, na qual haverá a coleta de dados. As informações podem ser passadas pelo próprio paciente, pela família ou então, por outras pessoas envolvidas.
Assim, as informações proporcionarão maior precisão de dados ao Processo de Enfermagem dentro da abordagem da SAE. Nesse momento, são abordadas as informações sobre alergias, histórico de doenças e até mesmo questões psicossociais, como, por exemplo, a religião, que pode alterar de forma contundente os cuidados prestados ao paciente.
O processo pode ser otimizado com a utilização de Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), com formulários específicos que direcionam o questionamento da enfermeira e o registro online dos dados, que podem ser acessados por todos da instituição, inclusive de forma remota. Dessa forma, é possível realizar as intervenções necessárias para prestação dos cuidados ao paciente, com maior segurança e agilidade.
2. Diagnóstico de Enfermagem
O diagnóstico de enfermagem é o processo de interpretação e agrupamento dos dados coletados. Essa etapa conduz a tomada de decisão sobre os diagnósticos de enfermagem, que irão representar as ações e intervenções, para alcançar os resultados esperados.
Para isso, utilizam-se bibliografias específicas que possuem a taxonomia adequada, definições e causas prováveis dos problemas levantados no histórico de enfermagem. Dessa forma, se faz a elaboração de um plano assistencial adequado e único para cada pessoa. Portanto, tudo que for definido deve ser registrado no prontuário do paciente, revisitado e atualizado sempre que necessário.
3. Planejamento de Enfermagem
De acordo com a SAE, que organiza o trabalho profissional quanto ao método, pessoal e instrumentos, a ideia é que os enfermeiros possam atuar para prevenir, controlar ou resolver os problemas de saúde.
No planejamento de enfermagem, são determinados os resultados esperados e quais ações serão necessárias. Isso será realizado a partir dos dados coletados e diagnósticos de enfermagem com base dos momentos de saúde do paciente e suas intervenções. São informações que, igualmente, devem ser registradas no prontuário do paciente, incluindo as prescrições checadas e o registro das ações que foram executadas, por exemplo.
4. Implementação
Em seguida, a partir das informações obtidas e focadas na abordagem da SAE, a equipe realizará as ações ou intervenções determinadas na etapa do Planejamento de Enfermagem.
São atividades que podem ir desde uma administração de medicação até auxiliar ou realizar cuidados específicos, como os de higiene pessoal do paciente, ou mensurar sinais vitais específicos e acrescentá-los no prontuário, por exemplo.
Outro aspecto relevante é o uso de dispositivos que otimizam o registro destas informações para dentro no Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), tal como o uso do aplicativo Beira-Leito.
O aplicativo permite que os dados sejam registrados assim que mensurados ou executados ainda à beira leito do paciente. Dessa forma, o recurso ajuda na coleta de dados, aferir dados vitais do paciente, checar prescrições e medicações etc. Isso tudo e outras atividades, via smartphones e tablets.
5. Avaliação de Enfermagem (Evolução)
Por fim, a equipe de enfermagem irá registrar os dados no Prontuário Eletrônico do Paciente de forma deliberada, sistemática e contínua. Nele, deverá ser registrado a evolução do paciente para determinar se as ações ou intervenções de enfermagem alcançaram o resultado esperado.
Com essas informações, a enfermeira terá como verificar a necessidade de mudanças ou adaptações nas etapas do Processo de Enfermagem. Além de proporcionar informações que irão auxiliar as demais equipes multidisciplinares na tomada de decisão de condutas, como no próprio processo de alta.
A Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) nº 358/20093, que versa sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e sua implementação, definiu que o PE deve ser dividido em cinco etapas: Histórico de enfermagem, Diagnóstico de enfermagem, Planejamento de enfermagem, Implementação e Avaliação de enfermagem. Essas etapas, inter-relacionadas e não sequenciais oportunizam a organização das ações de enfermagem, na medida em que vão gerando registros e possibilidades de acompanhamento contínuo por parte de todos os profissionais acerca dos sinais e sintomas do paciente, sua evolução e prognóstico.
A organização e a utilização da SAE exigem inúmeros conhecimentos dos profissionais que a desenvolvem. A responsabilidade sobre esses conhecimentos deve ser compartilhada entre a equipe de enfermagem e a instituição, aliada aos processos de educação permanente em serviço
Entretanto, mesmo com a exigência legal e com diversas possibilidades de benefícios por meio da SAE, há grande dificuldade no cotidiano dos profissionais de enfermagem em desenvolvê-la, tendo como justificativa fatores tais como o número reduzido de profissionais; tempo excessivo despendido com os registros, conflitos de papéis entre as atividades assistenciais e burocráticas dos enfermeiros, pouco apoio por parte da instituição; a abordagem superficial que é dada ao assunto durante a graduação, entre outras.
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